* Dóris de Fátima Reis Mendes
A linguagem humana é inerente a sua natureza, e as formas de comunicação entre os homens é objeto de estudos de teóricos de todas as áreas, não apenas da linguagem, como também da antropologia, filosofia, história, psicologia, entre outras. Na modernidade o foco das pesquisas está direcionado em especial aos novos suportes de leitura e escrita e a linguagem virtual que se torna cada vez mais uma maneira comum de interação entre as pessoas .Neste sentido, as várias possibilidades de comunicação e uso de textos por meio da linguagem virtual se tornam temas instigantes a pesquisas.
A história da escrita demonstra a sua importância na vida em sociedade, tanto no que diz respeito a transmissão de cultura adquirida, quanto em relação a evolução dos aparelhos de divulgação e apropriação desse tipo de linguagem. Estes suportes de leitura e escrita são hoje os mais variados possíveis e demonstram a evolução humana e tecnológica, na área da linguagem. Na medida em que a humanidade foi criando e se apropriando de novas formas de interação, a manifestação da escrita e da leitura também foi se modificando.
Estudos da teoria funcionalista da linguagem nos ajudam a explicar e entender este processo de desenvolvimento e apropriação da linguagem escrita e de como esta linguagem se apresenta de forma funcional nos sistemas linguísticos.
O modelo de comunicação tradicional que foi apresentado na teoria do linguista Jakobson (1969) determinava cinco elementos envolvidos no processo da comunicação: emissor, receptor, mensagem, código e canal. O esquema proposto por Jakobson (1969) para a dinâmica comunicativa foi elaborado a partir da conjugação dos elementos que se seguem e constitui um avanço para a época na maneira de se pensar a língua enquanto fenômeno comunicativo. Assim, remetente (aquele que enuncia), mensagem (conteúdo enunciado), contato/código (forma utilizada para a transmissão da mensagem), destinatário (aquele que recebe a informação expressa pelo remetente) foram tratados como elementos necessários para um ato comunicativo.
Nesse sentido, Halliday (1974; 1978; 1985) vem contribuir com sua proposta de gramática sistêmico-funcional. Seus estudos consideram tanto as experiências lingüísticas como as extralingüísticas relativas ao contexto comunicativo. Assim, ele destaca o aspecto pluridimensional e multifuncional da linguagem e acredita que a língua está sujeita a sofrer mudanças pela ação do uso.
Uma nova noção da organização lingüística é visível na Teoria da Gramática Funcional, de Dik (1989), que propôs um modelo de gramática funcional baseado em um esquema de interação verbal (que avança em relação ao modelo tradicional de Jakobson, 1969) Dik (1989) concebe a realização do ato comunicativo por meio de uma atividade cooperativa e estruturada, que necessita da participação de pelo menos dois indivíduos para a sua efetivação. Ele faz uma relação entre a interação verbal e a social, sendo que a comunicação é vista como um padrão de atividades interativas que têm um dinamismo cooperativo em que não há predominância de um de falante ou ouvinte, ambos os participantes do ato comunicativo contribuem igualmente para o processo da comunicação.
Tomando como base esses estudos funcionalistas podemos analisar os motivos pelos quais os suportes de leitura e escrita vem se manifestando de forma diferenciada nos dias atuais e principalmente como isto se reflete no uso da linguagem oral e na manifestação da língua no dia a dia dos internautas.
Com esta prática de uso, um outro código linguístico está sendo constituído e por meio do uso se concretiza como uma linguagem específica e internacional, que não se configura como específica de nenhuma língua em particular. No português do Brasil por exemplo, podemos citar a particularidade da formação silábica que foneticamente e do ponto de vista morfológico, é formada por VC,(vogal consoante) CV (consoante-vogal) ou VV(vogal, - vogal), ou seja, a língua “brasileira”não apresenta nenhuma sílaba sem vogal. Porém na linguagem virtual dos bate papos , por economia de tempo e fluidez da conversa já se configura em apenas CC (consoante-consoante). Exemplo: KD por “cadê”-VC por “você”- TBM por “também”. Assim, caminhando para uma nova ortografia. Portanto novas regras se firmam como convenções de linguagem, incluindo gramática e ortografia da língua, que perde fonemas, grafemas e ganha sentidos e significados contextuais cada vez mais amplos e flexíveis, sendo definidos por seus contextos de uso.
Assim, podemos afirmar que os modelos de comunicação tradicionais definidos por Jakobson (1969) , já não se aplicam mais as práticas comunicativas atuais cada vez mais baseadas na interação e na configuração de novas práticas comunicativas em que se é possível ter uma conversa via computador com diversas pessoas ao mesmo tempo mesmo sem a presença real dos participantes da conversa.
*Pedagoga, especialista em administração educacional e Língua Portuguesa e mestre em estudos linguísticos. Professora universitária, coordenadora pedagógica da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Trindade, professora dinamizadora do Colégio Estadual Senador Theotônio Villela e membro da Academia Trindadense de Letras Ciências e Artes.
Estamos vivendo um momento de mudança de paradigmas, de revolução. E essa revolução passa necessariamente pelo uso e massificação da internet, que vem estabelecer novas formas de trabalho, de relacionamento humano, de sociedade, produção e consumo, e assim por diante. E como a linguagem e a comunicação são inerentes e esenciais à sociedade, são pontos de partida para a percepção dessa mudança. Eu gosto disso!
ResponderExcluirBom texto! Parabéns! =)