sexta-feira, 23 de junho de 2017





Não vou mais chorar
Eu juro
Isso não vai mais acontecer
Eu me imponho ser feliz
Com ou sem você.
Antes de você eu já era eu!
Antes deste encontro
Eu já havia me descoberto
E não preciso de ajuda para saber
O que fazer.
Preciso de mim, mais do que de ninguém
E por isso preciso estar bem
Não posso me entregar agora
Não posso pensar que é o fim
Não o meu fim.
Tudo vai passar
E eu ainda vou ficar
De pé
Firme em mim, é só isso que eu tenho
E é só o que eu sempre terei
Dóris Reis



















Gosto de bom humor
Gosto de sorrisos soltos e largos
Gosto de felicidade.
De pessoas leves
Que não me pesem nos ombros
Nem na mente
e menos ainda no coração.
Gosto de gestos suaves que me deixem livres.
O que me prende 
causa repulsa.
Porque de verdade
Minha alma é pássaro
Que vai e volta quando quer
Que canta de alegria
e se ficar triste, canta também!

Dóris Reis

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Universo infantil: a criança como sujeito social





O conceito de infância é uma definição relativamente recente na história da humanidade. Até o século XII a criança não tinha nenhuma participação na vida social nem era considerada como um ser integrante da família, já que, por conta da falta de saneamento básico, ausência de vacinas e cuidados básicos muitas crianças eram levadas a morte, antes mesmo dos dois primeiros anos de vida. As crianças eram consideradas como “animaizinhos de estimação”, que animavam e alegravam a casa, mas que no caso de sua morte precoce eram logo substituídas por outra.
Além disso, as crianças que conseguiam sobreviver eram logo integradas a vida adulta, sem distinção de cuidados especiais para esta fase da vida. Portanto a concepção de infância da antiguidade era bem distinta da atual, pois a partir dos sete anos de idade, mais ou menos, as crianças já tinham responsabilidade de auxiliar nos trabalhos domésticos e de aprender a profissão dos pais, além de participarem de todas as questões dos adultos como festas, conversas.
Assim, a criança era considerada como um “adulto em miniatura”, um ser “anônimo”, sem direito a fala. Seres totalmente ignorados no convívio social e familiar. Não se considerava que necessitava de cuidados especiais e específicos para este momento da vida.
Com a evolução social, econômica e cultural da humanidade, com os interesses da igreja em disseminar os preceitos morais de sua doutrina, e com a criação da escola como espaço de educação e lazer, as crianças começaram a ser olhadas de uma maneira diferente.
A partir do século XVII e XVIII as concepções de infância foram sendo delineadas até se chegar a definição de que ainda hoje é utilizada de que a infância é uma fase da vida em que os indivíduos precisam de cuidados especiais e devem estar resguardados de algumas informações que podem lhes ser nocivas, para que se desenvolvam e se constituam para o futuro como indivíduos (adultos) plenos. Esta fase varia do seu nascimento até mais ou menos os dez a onze anos de idade, momento em que se inicia a adolescência, fase com características muito específicas.
Durante muito tempo a infância tem sido alvo de estudos e pesquisas e muitos tem sido os investimentos para esta fase da vida. A criança passou a ser considerada como um ser social passível de tratamento especial em todos os níveis. Na educação muitos estudiosos como Piaget e Vigotsky (embora não fossem educadores e sim psicólogos) se dedicaram a compreender como a mente da criança funciona e como ela aprende. Na economia, na indústria, a criança é o foco de grandes projetos de brinquedos, jogos eletrônicos, filmes, roupas, calçados e tantas outras parafernálias direcionadas a elas tem sido desenvolvidas a cada dia, no intuito de envolver mais e mais os pequenos infantes.
Na prática, porém, na atualidade estamos vivenciando um movimento de retorno ou retrocesso, ao momento em que o conceito de infância não era claro e definido. Isto é o que Cordeiro 2012 denomina de “cenário de crise”, crise esta “baseada em fatores oriundos principalmente da desfragmentação do núcleo familiar e do acesso ilimitado às informações próprias do universo adulto”.
O fenômeno da globalização, o alto índice de consumismo e a influência dos meios de comunicação,  junto ao público infantil, tem levado a uma “adultização” das crianças, que a cada dia mais aceleram o tempo de ser criança e são deixadas a exposição da vida adulta, da moda, da violência, da prostituição, etc.
Na mesma medida em que as crianças estão acelerando o processo de ser adulto observamos que os adultos, por sua vez estão cada vez mais “infantilizados”, ou seja: buscando medidas para se tornarem para sempre jovens. A não aceitação da natureza humana, que traz na sua essência o processo de nascer, crescer, amadurecer, envelhecer e morrer, tem sido cada vez mais negada por meio de tantas técnicas de rejuvenescimento, cosméticos, vestimentas, cirurgias plásticas entre outros.
 Além disso, a busca desenfreada pela eterna juventude é ressaltada, muitas vezes, por personalidades imaturas e infantis, que por sua vez acabam por ser responsáveis pela formação das nossas crianças que ficam perdidas neste emaranhado psicossocial a que estão expostas.
Portanto, as questões a serem tratadas em relação à infância: corpo e arte vão muito além da observação do conceito de infância e perpassa pela análise da sociedade de consumo, deturpada e repleta de ilusões que atingem em cheio os relacionamentos entre adultos e crianças. As relações de hoje entre pais e filhos, professores e alunos, resultam no adulto de amanhã que é impregnado das impressões que guardam de suas referências da infância, de seus heróis e de seus modelos.
A infância é sim uma fase primorosa da vida do ser humano e como tal deve ser considerada, para que não estejamos, nós adultos, formando as próximas gerações inseguras, doentes, descontentes e revoltadas com sua condição humana.
                                                                                                                                    Dóris Reis

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Um amor para recordar...


Quem não quer um amor para recordar?
Um amor de filme de sessão da tarde?
Daqueles que provocam suspiros do princípio ao fim...
Mas as vezes me acho meio na contramão do povo...
Pois os amores que recordo são os que me destruíram por um certo tempo.
Me machucaram.
Me obrigaram a me reinventar...
Estes sim, valem a pena recordar.
Mas não me critiquem nem se assustem porque estão no plural: amores!
Sim por que foram muitos...
Porque foram tantos quantos necessários pra me construir, destruir, reformar e me tornar o que sou.
Sem vergonha de recordar a cada um deles;
Os que não me lembro...
Bem, quais são eles mesmo?
Ah e só pra lembrar...
Esta historinha de amor para recordar.

Se for só um, tem de ser amor demais pra valer a pena lembrar....

Reciclagem


Houve um tempo em que esta palavra estava em alta...
Reaproveitar o lixo, era reciclar.
Curso de formação era reciclagem.
Reutilização da água ou do entulho era reciclagem.
Com o tempo e os usos, esta palavra perdeu a força e o sentido.
Perdeu o charme!
Hoje se mandar alguém reciclar é a maior ofensa. 
Nem lixo quer mais ser reciclado.
Mas existe por aí tanta coisa reciclada que se apresenta com outro nome só pra dar glamour.
Tem namoro reciclado, casamento reciclado, negócios reciclados (sob nova direção)
Mas porque será que os nomes perdem a força? Porque se tornam pejorativos e indesejados?
Isto nem a linguística e toda a sua análise consegue explicar.
O caso é mais de sintaxe do que de semântica.
Nada de pessoal com o nome, nem com o significado, só não se encaixa mais...foi reciclado!
Dóris Reis


“ CRISE”


Crise: esta é a palavra do momento.
Ela justifica a dívida no banco, o atraso no pagamento do salário, a revolta política nacional.
A crise é desculpa para o estress, para o fim daquele relacionamento antigo que iria acabar em casamento. É justificativa para não se ter filhos, nem abrir um negócio.
Por causa da crise estamos saindo menos, dançando menos, indo menos ao cinema e ao teatro e bebendo mais.
A crise é o motivo de se recuar naquele negócio da casa nova e na troca do carro.
Mas de que crise estamos mesmo falando?
Na crise política, econômica, social, ética, moral?
Nada disso, a crise tomou forma, porque assim deixamos que fosse. Bloqueou as iniciativas, a criatividade e virou desculpa pra tudo.
Desculpa pra culpar um outro ser, mesmo que abstrato por todas as mazelas do mundo.
Desculpa para estar neutro, desculpas para paralisar, para não se mexer.
Desculpa para experimentar uma nova dose de antidepressivos, pois afinal a “crise está brava!”.
Mas me desculpe o que eu vou dizer, ainda mais porque não sou autoridade alguma sobre crise...
Quero mais que esta crise se exploda!
Vou dançar e sapatear na cara dela... e de salto!
E mesmo contra a vontade dela e de todos os que a cultuam, como justificativa para a inércia e a covardia, vou continuar com a cabeça erguida...
Iguais a esta, eu já vivi mais de cem!

Dóris Reis
Setembro 2015


quinta-feira, 8 de maio de 2014

Em Defesa de Lobato


                  Dóris de Fátima Reis Mendes
            No mês de abril comemora-se tradicionalmente o dia Nacional do Livro Infantil. Este mês foi escolhido intencionalmente por ser a data de nascimento de um dos maiores escritores do Brasil e o primeiro e escrever especificamente para crianças: José Bento Monteiro Lobato.
            Monteiro Lobato é indiscutivelmente um marco na literatura brasileira. De personalidade polêmica, crítico por natureza, foi também um homem influente em sua época. Tecia críticas à política, sociedade, meio ambiente e saneamento básico.
Nas palavras de Anísio Teixeira:
“ a maior obra literária de nossa época, a mais aguçada e extensa análise do nosso povo e de sua terra e a mais admirável e mais poética literatura infantil que jamais um povo pôde organizar para a sua infância.(...) Involuntariamente, Lobato se fez o primeiro sociólogo brasileiro.”
                Por seus comentários críticos ao governo foi punido até com prisão, pois fez  denúncias em relação a falta de investimento para o desenvolvimento dos postos petrolíferos no Brasil.
                Jeca Tatu, um de seus personagens marcantes, procurava mostrar a carência das condições básicas de saúde nas áreas rurais do Brasil. Suas críticas mal interpretadas geraram a princípio, um mal estar social e Lobato chegou a escrever um pedido de desculpas à Jeca Tatu.


“Eu ignorava que eras assim, meu caro Tatu, por motivo de doenças tremendas. Está provado que tens no sangue e nas tripas um jardim zoológico da pior espécie. É essa bicharia cruel que te faz papudo, feio, molenga, inerte.Tens culpa disso? Claro que não. Assim, é com piedade infinita que te encara hoje o ignorantão que outrora só via em ti mamparra e ruindade.
Perdoa-me, pois, pobre opilado, e crê no que te digo ao ouvido: és tudo isso que eu disse, sem tirar uma vírgula, mas inda és a melhor coisa que há no país. Os outros, que falam francês, dançam o tango, pitam havanas e, senhores de tudo, te mantêm neste geena dolorosa, para que possam a seu salvo viver vida folgada à custa do teu penoso trabalho, esses, caro Jeca, têm na alma todas as verminoses que tu só tens no corpo.
Doente por doente, antes como tu, doente só do corpo.
Monteiro Lobato”
                Como escritor infantil, após ter frustrado suas expectativas de escrever para adultos criou personagens com personalidade forte, perspicaz e sensível. Mentes inteligentes e criativas.
Continuava a revelar  sua própria personalidade crítica nas falas e nas histórias do clássico “ Sítio do Pica-Pau Amarelo” . Pela boca da sapeca Emília, expôs suas ideias e questionamentos e ferrenhos ataques ao modelo social vigente.
Foi compreendido pelas crianças que reconheceram e veneraram seu trabalho e se deliciaram com suas histórias fantásticas.
Há atualmente uma linha de estudos literários que vem questionando a postura de Lobato a respeito do tratamento de seus personagens. Alegam preconceito e discriminação.
Lobato porém, como homem à frente do seu tempo refletia sua época e os costumes e hábitos de então. Com certeza não teve em sua obra nenhuma conotação neste sentido e intencionalmente não se utilizou de nenhuma forma de racismo ou preconceito.
Muito ao contrário, sendo ele um nacionalista e entusiasta de seu país, buscou retratar as características e peculiaridades do seu povo, retratando suas crenças, costumes e valores.  Ressaltou riquezas e potencialidades do Brasil. Cobrou posicionamento político, investimento, atitude do governo para o desenvolvimento nacional.
Certamente estivesse Lobato presente nos dias atuais, suas críticas e maneira de expressá-las seriam outras, embora muitos dos problemas sociais denunciados por ele no século passado ainda sejam dignos de registro nos dias de hoje.
Lobato: cidadão ativista, advogado, empreendedor, diplomata, escritor, homem polêmico, que ainda hoje desperta  questionamento. Sua obra o imortalizou, sua personalidade marcante o faz eternamente vivo.
“ As crianças de ontem são os adultos de hoje e todos se formaram lendo-lhe os livros”                                                                                                                                  ( Anísio Teixeira)









 Professora Pedagoga, mestre em Estudos Linguísticos, Membro da Academia Trindadense de Letras, Ciências e Artes, professora na rede estadual e municipal de ensino.