segunda-feira, 20 de junho de 2011

Café com Leitura



Foi realizado, no dia 18/06/2011, no auditório da Biblioteca Central, o V CAFÉ
COM LEITURA. A partir de uma parceria entre o IESA – Instituto de Estudos
Socioambientais com a FACOMB – Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia e,
contando com as presenças do escritor, folclorista e produtor cultural Bariani Ortênsio,
juntamente com o Professor e escritor Dr. Wilson de Paiva, presidente da ATLECA –
Academia Trindadense de Letras, Ciência e Arte, Prof. Dr. Eguimar Felício Chaveiro,
membro da ATLECA, Angelita Pereira de Lima e Andréa Pereira, foi posto em questão
A LEITURA DO MUNDO PELA JANELA LITERÁRIA.
A presença maciça de jovens estudantes de vários cursos, de professores de várias
unidades acadêmicas da Universidade Federal de Goiás, de membros da Atleca,
de alunos de mestrado e doutoramento do IESA no evento foi pertinente à rica
discussão da temática. Algumas ideias desataram o cordão da expectativa do público e
permearam o diálogo entre os membros da mesa.
Vale destacar a que apregoa que a literatura sempre foi heterogênea e que, como arte da
palavra, cumpre vários objetivos: a sede simbólica do ser humano em saber o que é; a
sua necessidade de contar a sua história; o valor de produzir imagens consoante ao que
se vê, sente e imagina; o dever de enfrentar, cotidianamente, a linguagem e transformá-
la num atributo de sentido humano.
Destacou-se também a proximidade entre ler e escrever, entre narrar e imaginar, entre
ver e compor. A fascinante imagem de Clarice Lispector “de que dentro de uma coisa
há outras coisas” e, que portanto, no dentro do dentro há o que não se sabe – e cabe a
leitura literária – procurar a sabedoria, ressoou como uma crítica: nem sempre a escola,
na sua estrutura e no seu desempenho pedagógico e normativo, é boa motivadora para a
leitura e para o exercício da escrita. Mas quase todas as pessoas lêem, escrevem, dizem
a sua história – e usam a linguagem para fazer perguntas e tecerem imagens que lhes
testemunham a vida e o seu dom de beleza.
Por Eguimar Chaveiro

Entrevista sobre Linguagem Midiática - Jornal Academus


1)Dóris, quais são os desafios centrais dos estudos de Linguagens na situação histórica atual? 
Penso que em todo e qualquer tempo, o grande desafio de estudar a linguagem, e também o grande prazer em fazê-lo, é o fato de que a linguagem é dinâmica e não se aprisiona em nenhum critério, ou método. Não se rende a nenhum tipo de  normas, nem mesmo as gramaticais ou ortográficas, que teoricamente são estruturas mais rígidas da língua. Ou seja, mesmo a gramática e a ortografia de uma determinada língua podem se modificar com o passar do tempo e com os usos que se faz delas.
Qualquer barreira que se queira formar ou firmar para o estudo da língua seria inconsistente, dada a natureza do seu objeto de estudo estar correlacionado à subjetividade do sujeito, que é quem fala, enuncia, expressa... e ainda ao espaço em que este sujeito se encontra (tomando como espaço toda noção de geografia, de sociedade, de cultura, de interdependências econômicas e relacionais - ou seja, tudo o que é extralinguístico e que se manifesta na linguagem, mesmo sem dela fazer parte.
Portanto se eu fosse destacar um desafio de forma especifica no estudo da linguagem, ou como você disse -linguagens- seria o fato de estar ela tão relacionada ao ser humano, que é por natureza complexo, incompleto e evolutivo e sendo a linguagem inerente a ele sofre, ou se presta a todas as nuances desse ser.
O estudioso de linguagem deve portanto, ser alguém sensível as estas realidades e não buscar respostas objetivas, diretas ou acabadas, sob pena de se frustrar no intento de reduzir a linguagem a um mero objeto, ou instrumento (no sentido de utensílio, ferramenta)  que é usado pelo homem, ao passo que esta é um “artifício” consciente de comunicação, expressão, sedução, convencimento, estética e arte, entre tantos outros utlizados pelo ser humano em seu processo de socialização.
Assim,  o estudioso da língua é um inovador, um desafiador do tempo e do espaço, já que é impossível desconsiderar esses aspectos o estudo linguístico.

2) Como lidar com os novos tipos de textos, especialmente com os virtuais?
Todas as possibilidades de leitura devem ser consideradas na escola ou fora dela. Estudos já comprovam que o jovem da atualidade lê mais, embora com uma capacidade de concentração e retenção menor, devido a própria forma como o texto se apresenta. Há  ainda o advento da linguagem virtual, considerando as mais diversas possibilidades. Hoje poderíamos considerar que a mente da criança e do jovem funciona como em um site que oferece diversos links de possibilidades de acesso. No caso do pensamento juvenil, podemos usar uma metáfora de uma tela de computador que oferece mil opções de escolha, de pensamentos, de seleção, de cores, sons, de jogos mentais. Mentes inquietas!
Não se pode desconsiderar que a criança com acesso ao mundo virtual e as suas possibilidades textuais, aprende de maneira diferente das crianças e jovens de séculos, décadas e até poucos anos atrás. Não pensando apenas nos diferentes tipos de suporte, mas principalmente como formatos de texto (bate- papos, blogs, sites de relacionamento ou pesquisa, etc) não valorizar e desprezar essa realidade e fechar os olhos diante do obvio.
Assim, lidar com os novos textos requer não só uma preparação teórica por parte da escola e dos profissionais da educação, como muito mais necessita de uma vivência (porque dizer experiência seria equivocado) com esses textos.
O que se percebe é uma certa resistência e uma aversão da instituição escola (isto me referindo ao nível fundamental e médio)  aos textos virtuais, as pesquisas de internet, aos sites de relacionamento e redes de comunicação. Como professora dinamizadora de uma escola estadual, percebo que sempre que um professor vai ao laboratório de informática educacional (LIE) a primeira recomendação é que o aluno não entre em site do tipo orkut e MSN.
Isso demonstra e exemplifica o que eu acabo de afirmar anteriormente. Como se fosse errado na escola usar esses instrumentos, que na vida estão a nossa mão a todo momento, ao passo que deveria ou poderia ser exatamente ao contrário. Os professores deveriam usar o LIE para orientar que tipo de textos estão apresentados ali, que tipo de possibilidades de leitura e escrita eles nos oferece, que diferenças há entre este e outro tipo de texto. E ainda mais que tipo de análise se pode fazer das relações interpessoais que se cria e se desenvolve nestes tipos de sites, o que são comunidades virtuais, para que elas servem, se há riscos em se envolver nelas e inúmeras outras possibilidades inexploradas no âmbito escolar.
Na verdade, a falta de preparo, e não digo preparo acadêmico, digo de vivência (volto a repetir) e uma certa discriminação a linguagem virtual é que causa dificuldades em lidar com textos virtuais na escola.
Mas é necessário salientar que em alguns aspectos, se não em todos os casos, não há como frear a evolução tecnológica, nem ignorar a influência midiática na vida moderna, assim como não há como desejar que o  homem retorne ao seu estado primitivo. Desse modo, é necessário e urgente uma mudança na concepção de ensino, de escola e principalmente de linguagem para não se correr o risco de estarmos tornando a escola cada vez mais inútil.
Aqui cito Rubem Alves, que afirma que a única e melhor coisa que aprendeu na escola foi a ler. Todo o resto ele aprendeu com a vida e com a habilidade de leitura. Se a escola não ensinar a leitura e interpretação do mundo em que a criança, adolescente e jovem  vivem, ela está caminhando para a sua total inutilidade.

3) - Como criar práticas de leitura junto ao jovem fragmentado, geralmente disperso?
O adolescente e o jovem na atualidade tem uma maneira diferente de pensar, de raciocinar, de racionalizar as coisas a sua volta. No geral são muito rápidos e com uma apreensão ligeira das informações. Detém com facilidade novos fatos e conceitos, mudam rapidamente de foco e de interesse. Isso não pode, nem deve, ser considerado um defeito, mas uma característica das novas gerações. E é com esse jovem elétrico, antenado que a escola está lidando.
Infelizmente apesar de tantas mudanças, a escola continua usando as mesmas estratégias de leitura e de atividades literárias do passado. A escola deve considerar que o jovem “disperso”, porém ligeiro, de mente inquieta, é um ser com identidade própria e interesses variados, por isso a dispersão. Cabe buscar novas estratégias de leitura com levem em consideração essas características. Desconsiderar a linguagem da juventude e não levá-la para a escola é perder a chance de contribuir com a educação desta juventude. Os novos suportes de leitura, técnicas de escrita que considerem a linguagem virtual e a funcionalidade da língua devem ser uma constante nos planejamentos de língua portuguesa em nossas escolas.
Entrevista realizada pelo Prof Dr Eguimar Chaveiro à Prof. Ms Dóris de Fátima Reis Mendes para o jornal Academus - 2ª edição Junho 2011- (Ambos Membros da ATLECA)
vam