quinta-feira, 8 de maio de 2014

Sujeito, espaço e Identidade: primeiras impressões

“O melhor lugar do mundo é aqui, e agora!”
Gilberto Gil
Uma das grandes questões a que tenho me dedicado nos últimos tempos, é a de compreender meu espaço no mundo. O lugar em que me encontro física, filosófica e psicologicamente é verdadeiramente o que desejo estar? Há algum outro lugar em que desejo chegar ou estar além de onde estou? Nesta procura tenho empreendido investigações e pesquisas acerca de outras pessoas que compartilham estas mesmas angústias.
O que tenho percebido é que esta questão é bem mais coletiva do que individual, muito mais global do que eu podia supor em minhas inquietações particulares. Assim, encontrei em diversas ciências, teorias, propostas e proposituras que me auxiliam a pensar sobre tema.
Ultimamente tenho me debruçado em alguns conceitos da Geografia que me explicam, de certa forma, a inquietude que me toma.
Não é tão simples falar em espaço e identidade. Não é tão concreto falar de lugar e de sua posição no mundo. Não é tão óbvio se encontrar em um mundo tão vasto e tão complexo como o que vive o homem moderno. E portanto, não é tão imediato encontrar respostas conclusivas sobre os conceitos de sujeito, espaço e identidade.
Tenho percebido que identificar-se como sujeito em um mundo de coletividades, está mais ligado aos sentidos individuais que se dá e ao espaço em que se ocupa como ser humano (sujeito). Seguindo esta linha de pensamento, Lívia de Oliveira afirma que “o sentido do lugar implica o sentido da vida e, por sua vez o sentido do tempo”.
Esta afirmação me reporta a palavra “sentido” como algo de sensações, relacionado ao sensorial. O ver, o ouvir, o tocar, o cheirar, sentir o gosto (gostar) são sensações básicas e que nos fazem definir o que somos por meio daquilo que nos afeta. Veja bem, pensando assim, sujeitos são seres que sentem e são tocados pelo lugar onde, de alguma forma e por algum motivo se identificam, se sentem acolhidos e amados.
Esta é uma noção talvez romântica para um conceito considerado científico. Porém quando se trata de falar de sujeitos não há como não sê-lo.
Outra contribuição às minhas reflexões está nas afirmações de Alves (2013) que diz que o corpo (físico) do homem é determinante para que ele se encontre no mundo pois, o corpo “é construído pelas marcas feitas pelo outro, pelo olhar do outro, pelo desejo do outro (...)” Isso se coaduna com as ideias de Vygotsky, que afirmava que o “sujeito é primeiro social e depois se transforma em indivíduo” (In Alves, 2013).
Ou seja, a sociedade exerce papel fundamental e preponderante na formação identitária do sujeito, já que é o reflexo de um complexo conjunto de relações do homem com o mundo em que está inserido.
Por isso, talvez, expressões como:  este é o meu lugar, ou não me sinto bem neste lugar, sejam inconscientemente uma forma de afirmar ou negar o sentimento (sentido) de pertença a um ou outro espaço em nos encontramos em momentos específicos de nossa existência.
Para expressar este sentimento de pertença a um lugar, grupo ou ideologia, o ser humano utiliza de diversas maneiras de seu próprio corpo, como que para se mostrar ao mundo. Este desejo de mostrar ao mundo quem é por meio do seu corpo físico, está ligado à noção de corporeidade que, em última instância, revela por meio de marcas intencionais e individuais, a essência do que carrega dentro de si. O que tem sentido, o que foi afetado por outros em sua integridade e individualidade de sujeito social.
Enfim, e não finalizando, o ser humano tem a necessidade intrínseca, que é também a minha, de pertencer ao mundo, de fazer parte de um lugar e estar à vontade nele. Este sentimento é revelado sutil ou violentamente por meio das marcas que fazemos como pessoas (sujeitos). Marcas concretas ou não, claras ou obscuras, permanentes ou transitórias, expressas na nossa corporeidade.
Cabe aqui para continuar a conversa, falar de como os sujeitos com deficiência física se enquadram neste questionamento. Como se vêm frente a um mundo de rótulos e modelos, de perfeições e imperfeições, de belezas modelares e padronizadas, de referências estatísticas de produção, consumo, lazer e participação cidadã.
Como se revela ao mundo este sujeito que viveu no obscurantismo das casa e instituições e que há bem pouco tempo tem se revelado tal como é, em sua completude, desnudos de pré-conceitos impostos por uma sociedade naturalmente excludente.
Como se afirmam como detentores de direito a explorar e usufruir de espaços consagrados a uma maioria tida normal, ou perfeita?
Como se define este sujeito em seu lugar. Qual é o seu lugar? Há espaço para este sujeito que hoje impõe suas mazelas como normalidades e direitos? O mundo é de fato um lugar para todos?

                                                                                               Dóris de Fátima Reis Mendes





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