“O melhor lugar do
mundo é aqui, e agora!”
Gilberto Gil
Uma das grandes questões a que tenho
me dedicado nos últimos tempos, é a de compreender meu espaço no mundo. O lugar
em que me encontro física, filosófica e psicologicamente é verdadeiramente o
que desejo estar? Há algum outro lugar em que desejo chegar ou estar além de
onde estou? Nesta procura tenho empreendido investigações e pesquisas acerca de
outras pessoas que compartilham estas mesmas angústias.
O que tenho percebido é que esta
questão é bem mais coletiva do que individual, muito mais global do que eu
podia supor em minhas inquietações particulares. Assim, encontrei em diversas
ciências, teorias, propostas e proposituras que me auxiliam a pensar sobre
tema.
Ultimamente tenho me debruçado em
alguns conceitos da Geografia que me explicam, de certa forma, a inquietude que
me toma.
Não é tão simples falar em espaço e
identidade. Não é tão concreto falar de lugar e de sua posição no mundo. Não é
tão óbvio se encontrar em um mundo tão vasto e tão complexo como o que vive o
homem moderno. E portanto, não é tão imediato encontrar respostas conclusivas
sobre os conceitos de sujeito, espaço e identidade.
Tenho percebido que identificar-se
como sujeito em um mundo de coletividades, está mais ligado aos sentidos
individuais que se dá e ao espaço em que se ocupa como ser humano (sujeito).
Seguindo esta linha de pensamento, Lívia de Oliveira afirma que “o sentido do lugar implica o sentido da vida
e, por sua vez o sentido do tempo”.
Esta afirmação me reporta a palavra
“sentido” como algo de sensações, relacionado ao sensorial. O ver, o ouvir, o
tocar, o cheirar, sentir o gosto (gostar) são sensações básicas e que nos fazem
definir o que somos por meio daquilo que nos afeta. Veja bem, pensando assim,
sujeitos são seres que sentem e são tocados pelo lugar onde, de alguma forma e
por algum motivo se identificam, se sentem acolhidos e amados.
Esta é uma noção talvez romântica
para um conceito considerado científico. Porém quando se trata de falar de
sujeitos não há como não sê-lo.
Outra contribuição às minhas
reflexões está nas afirmações de Alves (2013) que diz que o corpo (físico) do
homem é determinante para que ele se encontre no mundo pois, o corpo “é construído pelas marcas feitas pelo outro,
pelo olhar do outro, pelo desejo do outro (...)” Isso se coaduna com as
ideias de Vygotsky, que afirmava que o “sujeito
é primeiro social e depois se transforma em indivíduo” (In Alves, 2013).
Ou seja, a sociedade exerce papel
fundamental e preponderante na formação identitária do sujeito, já que é o
reflexo de um complexo conjunto de relações do homem com o mundo em que está
inserido.
Por isso, talvez, expressões como: este é o
meu lugar, ou não me sinto bem neste
lugar, sejam inconscientemente uma forma de afirmar ou negar o sentimento
(sentido) de pertença a um ou outro espaço
em nos encontramos em momentos específicos de nossa existência.
Para expressar este sentimento de
pertença a um lugar, grupo ou
ideologia, o ser humano utiliza de diversas maneiras de seu próprio corpo, como
que para se mostrar ao mundo. Este desejo de mostrar ao mundo quem é por meio
do seu corpo físico, está ligado à noção de corporeidade que, em última
instância, revela por meio de marcas intencionais e individuais, a essência do que
carrega dentro de si. O que tem sentido, o que foi afetado por outros em sua
integridade e individualidade de sujeito social.
Enfim, e não finalizando, o ser humano
tem a necessidade intrínseca, que é também a minha, de pertencer ao mundo, de
fazer parte de um lugar e estar à vontade nele. Este sentimento é revelado
sutil ou violentamente por meio das marcas que fazemos como pessoas (sujeitos).
Marcas concretas ou não, claras ou obscuras, permanentes ou transitórias,
expressas na nossa corporeidade.
Cabe aqui para continuar a conversa, falar
de como os sujeitos com deficiência física se enquadram neste questionamento.
Como se vêm frente a um mundo de rótulos e modelos, de perfeições e
imperfeições, de belezas modelares e padronizadas, de referências estatísticas
de produção, consumo, lazer e participação cidadã.
Como se revela ao mundo este sujeito
que viveu no obscurantismo das casa e instituições e que há bem pouco tempo tem
se revelado tal como é, em sua completude, desnudos de pré-conceitos impostos por uma sociedade naturalmente excludente.
Como se afirmam como detentores de
direito a explorar e usufruir de espaços consagrados a uma maioria tida normal,
ou perfeita?
Como se define este sujeito em seu
lugar. Qual é o seu lugar? Há espaço para este sujeito que hoje impõe suas
mazelas como normalidades e direitos? O mundo é de fato um lugar para todos?
Dóris de Fátima Reis Mendes
Dóris de Fátima Reis Mendes
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